quarta-feira, 11 de junho de 2008

Capítulo V - O Triângulo Amoroso - Assessores, Jornalistas e Protagonistas


Como se podem abafar más notícias? Dando algo em troca? A relação dos assessores de imprensa com os jornalistas põe a questão da Ética no seu limite?

Não se deve abafar as más notícias, porque essa postura, mais tarde ou mais cedo, será nefasta. Uma relação baseada em interesses pode colocar em cauda a Ética, mas cabe ao jornalista não o permitir, com firmeza, de forma a não ser “usado” em várias situações. Concordo que, por vezes, não é fácil, mas a profissão de Jornalista nada tem de fácil. No entanto, há situações em que a outra face da moeda é de todo a mais correcta para minimizar problemas. O assessor de imprensa direcciona a informação. As más notícias podem ser abafadas, e de várias formas, mas um dia a verdade será realçada. Aqui temos a relação “água e azeite”, não se misturam. A verdade não se mistura com a mentira; o que é a ética, não passa de normas. É como as leis, foram criadas para ser cumpridas, ou não. Vai da consciência e do grau de cidadania de cada um. O presente Governo é um bom exemplo de como proceder em face de más notícias. Não sendo vanguardista mostra-se exímio nessa técnica. Abafa as más notícias com o pré-anúncio de boas notícias, sabendo que estas, por serem mais raras, vão prender mais as atenções (exemplo: a descida do IVA). O pré-anúncio permite ainda o anúncio, o que significa a duplicação do mesmo espaço de notícia. Acredito que haja outras técnicas, menos visíveis, de abafar as más notícias. Se pensarmos que o impacto duma má notícia também resulta do alinhamento que ela tem nos órgãos de comunicação social (a página, par ou ímpar; a chamada ou não na capa; no início, meio ou fim dos telejornais; antes ou imediatamente a seguir a um intervalo publicitário;), que esse alinhamento é decidido por homens que dependem profissionalmente de estruturas (económicas) e que estas, por sua vez, estabelecem relações com os diferentes níveis de poder, a possibilidade de trocas de favores ou existência de pressões. Neste momento, temos o problema dos combustíveis e uma empresa controlada pelo Governo a manipular diariamente os preços e o povo nada faz. E isto porquê? Tudo está controlado pelo poder político. Não há soluções à vista, porque quer com governo à esquerda ou à direita, hoje em dia é tudo igual. Perderam-se os valores.

As convicções de um assessor e os interesses do protagonista

Chocarão muitas vezes, mas o protagonista tem toda a vantagem em ouvir o assessor, se não o seguir assumirá as responsabilidades do seu acto. O papel do assessor é aconselhar. A decisão final não é dele. Ou nunca devia ser, pois não é ele o protagonista. Este é que pode ganhar ou perder, em função dos conselhos do assessor. No entanto nem sempre é o que acontece. Senão vejamos: Num dia morto há sempre muita gente atenta. No filme, Slow New Days cria-se uma estratégia para salvar a Segurança Social. Se a bomba estourar o presidente disse mesmo a Toby que dirá à imprensa que não sabe de nada. Recordemos que Toby engendrou um plano para salvar pensões. Mas a sua ideia não deu certo. A imprensa descobriu que Toby andava em negociações com Gaines (um senador) e quer publicar a notícia (se o fizerem isso acabará com qualquer acordo). Uma situação que colocou em risco a política do presidente e até mesmo o seu emprego (mais à frente o presidente acabou por perdoá-lo mas foi uma situação que o fez perder o emprego). Para tentar que o jornal não publicasse Toby ofereceu ao jornalista um exclusivo de 10 minutos com o presidente. O assessor tem de ser alguém com conhecimentos técnicos, científicos, já o protagonista, aquele que independentemente dos seus conhecimentos, é muitas vezes o “apostador”, o político, aqueles que têm o “faro”. Não estou certa que 'perderá sempre'. Depende da forma como apresentar os seus argumentos e das capacidades do protagonista. No limite, no entanto, o choque criará uma falta de confiança entre ambos que minará a relação profissional (como aconteceu em "Os Homens do Presidente". Com claro prejuízo para o assessor, está bom de ver.

A relação de intimidade entre Assessor e jornalista

Pode existir uma relação de intimidade, desde que não confundam a relação profissional, com as afinidades pessoais. Se o fizerem, é a morte do artista, mas é possível manter essa relação, com respeito mútuo. No entanto não somos todos iguais! Há casos em que para o bem da informação não é possível. Já que deve procurar a verdade da informação. O assessor de imprensa trabalha a notícia em função do público-alvo. Na intimidade existe cumplicidade. A relação dos assessores de imprensa com os jornalistas é sempre difícil de caracterizar, até porque na sua maioria os assessores são ex-jornalistas ou jornalistas em licença temporária de funções. Do que conheço (e ainda é pouco) suscita-me a ideia de alguma promiscuidade profissional. Afinal, é preciso um elevadíssimo nível de carácter moral para não ceder a tentações de trocar favores num dos postos por favores, prévios ou posteriores, no outro.


A importância crescente de um assessor de imprensa

Cada vez mais cresce a importância de um assessor de imprensa na comunicação política (mas não só), em especial durante as campanhas eleitorais. Esta verdade tem suscitado alguma apreensão. No nosso país esta situação tem levantado algumas questões mais em termos opinativos do que empíricos. Esta importância está ligada ao facto de ser necessário chamar a atenção dos meios de comunicação social (e por extensão da opinião pública). Tem de haver impacto na política. As assessorias participam em tudo o que se decide, não é apenas o último ponto antes do contacto com os jornalistas, é parte integrante da estratégia de comunicação e não um elemento passivo. A existência de uma assessoria, é uma forma, muitas vezes, de não fazer soltar as verdades mais inconvenientes e de passar a informação que querem passar, mas a persistência de procurar a verdade pode, sempre, prevalecer. As assessorias, quando contratadas, têm sempre um determinado objectivo e é nesse objectivo que se trabalham e direccionam as assessorias, daí concordar que as assessorias auxiliam a forma como se quer dar a informação, para o público-alvo a que se destina a informação. Temos como exemplo recente o caso UEFA-FCP, em que o presidente do FCP dá a entrevista na SIC, dizendo aquilo que lhe convém (e ao FCP) perante os factos conhecidos, não deixando que os jornalistas direccionem a entrevista para algo que lhe é desconfortável. No episódio n. º 15, da 1ª temporada, intitulado “Navegação Celestial” Sam e Toby deslocam-se a Connecticut para tentar resgatar (uma operação que será bem sucedida) o Presidente do Supremo Tribunal que está na cadeia. Conseguem convencer os polícias a libertarem-no, manipulando-os com palavras. Enquanto isso Josh participa numa conferência universitária cujo objectivo é descrever um dia típico na Casa Branca. Josh dá uma conferência de imprensa cheia de gaffes. Aqui podemos constatar que nem sempre é fácil lidar com a imprensa e que se não estivermos bem preparados somos engolidos. A sua tentativa de tornar-se o porta-voz oficial da Casa Branca falhou porque prometeu e inventou (sem o presidente saber) um plano secreto para combater a inflação e os jornalistas bombardearam-no com perguntas às quais ele não sabia responder. As assessorias são motores activos na informação a transmitir. Não me surpreende, arrepia ou incomoda. Até porque a comunicação duma informação é parte essencial do processo de divulgação pois em muito determina o impacto da informação (conteúdo) e os resultados que se podem daí obter.

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